sábado, 13 de fevereiro de 2010

O debate sobre graffiti, ou uma foma de dizer "Amo-te assim"

Algumas das intervenções dos alunos:

- Alguns têm valor artístico, depende dos desenhos.
- O vandalismo acontece quando não existe uma autorização, mas agora já existem graffitis autorizados e até alguns realizados no chão.
- Em algumas escolas e espaços públicos já existem muros destinados aos graffitis, alguns temáticos, como no caso da música.
- Os graffitis são arte quando traduzem expressão de sentimentos. As pessoas criticam  porque não sabem apreciar o seu valor artístico.
- As pessoas são críticas em relação aos graffitis por causa dos actos de vandalismo.
- Devia haver espaços próprios.
- As pessoas têm diferentes concepções de arte. Alguns consideram que a arte também pode estar na rua, no quotidiano.
- O graffiti é uma arte que exige treino, daí a proliferação. As paredes próprias para esta arte destinam-se aos graffiters que já têm uma expressão.
- Algumas pessoas sentem-se no direito de não gostar de ver o seu prédio graffitado, isso dá aos espaços um ar de desordem, alguns são desequilibrados, desorganizados, feios.
- A existência dos graffitis traduz um desequilíbrio social e necessidade de manifestação.
- Compreende-se que precisam de treinar, mas que treinem nos seus próprios espaços, se não gostarem tapem e voltem a pintar. Isso evita que a cidade inteira fique cheia desses maus graffitis.
- Não é correcto fazer graffitis num espaço como o santuário de Fátima, que foi concebido para outro efeito. Os graffitis ficam fora de contexto. Mais valia treinarem em papel de cenário nos seus quartos.
- A arte não precisa de ter equilíbrio. Algumas formas de arte podem assentar sobre o desequilíbrio, não tem de ser tudo perfeito e não deixa de ser arte.
- Aqui, pintar nas paredes é vandalismo. Mas em Bruxelas, em cada bairro, uma parede sem pintura é a excepção. Com autorização da Câmara. Alguns artistas são mesmo muito conhecidos no país.
- É preciso distinguir entre a arte urbana e a arte comercial. A primeira é o movimento mais forte,  a segunda já vai dando muito dinheiro a ganhar, em campanhas de grande marcas que convidam os mais talentosos dos artistas.
- Fazer alterações numa parede de forma não autorizada é crime. Mesmo o dono do prédio não pode fazê-lo.
- Nem todo o ruído pode ser considerado arte, ainda que eu, o criador, assim o entenda. Para além de que os sprays prejudicam o ambiente, A minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro. Fazer um graffiti num local público não autorizado é interferir com a minha liberdade.
- A arte é um conceito relativo. Não é possível meter tudo em caixas: é arte, não é arte, e vandalismo, não é vandalismo. Actualmente a criação assume muitas formas e é tudo muito subjectivo, tudo depende da definição que cada um tem de arte.
- O graffiti tanto pode ser visto como sinal de respeito como de falta dele. Nos locais próprios, onde é legal, é a nova arte.
- Nos bairros sociais, onde ocorre mais vandalismo e menos vigilância, os graffiters contribuem ainda mais para a degradação.
- Os verdadeiros graffitis são raros. A maior parte são letras, tags.
- Um certo desequilíbrio também tem a sua graça, a arte não tem de ser muito certinha, é interessante a alternância mais peso, menos peso. No entanto é preciso não confundir graffitis artísticos com simples marcação de território, actividade de gangs.
- O graffiti nasceu no meio de determinados bairros onde não há limites porque não é possível haver regras lá dentro.
- Em  Monte de Caparica e na estação do Pragal há excelentes graffitis, com uma história e com sentido. É preciso saber estabelecer a distinção entre arte urbana e vandalismo.
- Existe algures um graffiti muito interessante com um desenho à volta cujo texto é o seguinte:
"Amo-te assim".
- As pessoas quando vão fazer estudos visuais colocam algum significado naquilo que vêem, e podem ver muito mais significado numa parede branca do que numa reprodução da Mona Lisa nessa mesma parede. Outros poderão achar o contrário.
- Cada graffiter põe na sua expressão a sua experiência de vida. As próprias letras também têm estilos, também são uma arte. Não há bons artistas desta arte que não tenham começado com letras, é desta forma que se treinam os traços.
- Relativamente ao equilíbrio, que equilíbrio é que existe na pintura de Dali? Relógios a derreter... E não é por isso que deixa de ser arte, é surrealismo, a arte também serve para fazer pensar.
- A questão da cultura dos graffiters às vezes é posta em causa. Há uma cultura própria que não tem de ser a cultura de toda a gente.
- As próprias letras podem ser mais arredondadas ou mais rectas e podem sugerir algo diferente a cada um.
-A cultura passa também por saber como é a vivência em determinados bairros. Cultura não é só ter visto muitos quadros, é também a vida e a vivência de cada um.
- Sobre o equilíbrio é também preciso dizer que no caso de uma música, por exemplo, pode ser só barulho e no entanto algumas pessoas poderão gostar.
- Mesmo a pintura de Dali é desequilibradamente equilibrada. Sobre cultura e conteúdo, o que sa passa com os graffitis é que põem a vida na pintura, na parede, e isso pode não interessar ao outro lado da sociedade.
- Poderiam, no entanto, evitar poluir o ambiente com sprays.E deviam respeitar os espaços proibidos, que são uma mais-valia económica para o país, deviam limitar-se aos espaços autorizados.
- Ainda que possam ter significado pessoal, as "alcunhas" não deixam de ser vandalismo.
- Também alguma poesia e literatura transporta imagens de vandalismo, vingança, desespero, raiva, cenas violentas. Quanto à arte na rua, os graffitis não são a primeira expressão desta, basta ir aos jardins da Gulbenkian, cheios de peças de arte.

O debate terminou sem conclusões, porque devido à participação dos alunos, foi interrompido com o toque, não tendo havido tempo para fazer um balanço ou uma síntese.

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